quinta-feira, 11 de junho de 2015

Deputado de PE pede revogação de lei que limita apresentações culturais


Decisão foi anunciada em audiência pública realizada nesta quarta-feira.
Lei do deputado Ricardo Costa proíbe prática cultural entre 22h e 10h.

Artistas circenses que atuam nos sinais de trânsito teriam atividade limitada com lei aprovada em Pernambuco (Foto: Marina Barbosa / G1)

De acordo com a lei estadual 15.516, aprovada pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e sancionada pelo governador Paulo Câmara no último dia 27 de maio, artistas de rua não podem mais se apresentar em espaços públicos do estado, entre 22h e 10h. Crianças de até 14 anos também ficaram proibidas de participar de apresentações culturais e a venda de materiais como CDs e DVDs que não sejam do artista em apresentação se tornou ilegal. Após reação popular, principalmente entre artistas e movimentos sociais na internet, o deputado Ricardo Costa (PMDB), autor do projeto, informou que entrou com um pedido de revogação da lei, na terça-feira (9). A decisão foi informada durante a realização de uma audiência pública, nesta quarta-feria (10), na Alepe.

A revogação da lei 15.516 vai acontecer com a apresentação de um novo projeto, que irá mudar totalmente o conteúdo da norma anterior, anulando as limitações do texto então aprovado. O deputado Ricardo Costa encaminhou um pedido de urgência junto à Alepe, para que o novo projeto seja apreciado num prazo médio de um mês. "Dei entrada ao Projeto de Lei 271/2015 que revoga por completo a Lei 15.516. Assim sendo, zero o processo para que seja iniciada uma nova etapa, um novo desafio: construir uma nova lei que atenda aos diversos matizes culturais em sua plenitude. Conclamo a todos os presentes, a classe artística, os movimentos populares, os órgãos competentes que gerem a cultura e a sociedade interessada a construírem juntos esta nova lei", disse o deputado em seu discurso durante a audiência pública desta quarta.
Deputado Ricardo Costa (no alto, à esquerda)
anunciou pedido de revogação de lei durante
audiência pública, realizada na Alepe (Foto:
Divulgação / Assessoria do deputado Ricardo
Costa)

A reunião realizada nesta manhã entre os parlamentares e a sociedade civil foi solicitada pelo próprio Ricardo Costa. O pemedebista informou que não pensava que a lei fosse delimitar a cultura popular em Pernambuco e que, por isso, toda a regulamentação está sendo revista através do debate com sociedade. "Não foi minha intenção restringir a liberdade de expressão e nem tampouco proibir as manifestações populares e artísticas de rua. Pelo contrário. Tive o intuito de dar mais reconhecimento e valorização aos artistas de rua que fazem a cultura acontecer nos semáforos. A iniciativa com o projeto foi também preservar nossas crianças que, muitas vezes fora da escola, arriscam as suas vidas e são 'exploradas' rodando paus de fogo, enquanto seus pais ou parentes ficam à sombra das árvores, esperando para receber os 'trocados' arrecadados no trânsito", justificou o parlamentar.

As regulamentações da lei aprovada se aplicam a atividades como dança, teatro, capoeira, mímica, estatuária viva, artes plásticas, malabarismo e outras atividades circenses, música, apresentação folclórica e declamação de literatura ou poesia. Para artistas populares de Pernambuco, a Lei 15.516 só faz prejudicar a cultura do estado, que tem a prática da arte na rua como raiz das principais manifestações populares. "A gente sentiu a necessidade de fazer uma açao coletiva, porque a lei não se choca só com a arte de rua, mas com outras artes, como a manifestação negra, a manifestação popular. A gente quis aglomerar forças para anular a lei", explica a artista de rua Beatriz Santos, uma das representantes do Movimento Arte de Rua, recém-criado nas redes sociais.

Os dois pontos mais criticados na lei são a restrição do horário para práticas culturais e a proibição da presença de crianças de até 14 anos em eventos. Na cultura pernambucana, atividades como a do maracatu rural tradicionalmente ocorrem de madrugada, na Mata Norte. E em outras expressões tradicionais, a arte é passada do pai para o filho, como no cavalo-marinho, que recebe muitas crianças em suas apresentações. A Lei 15.516 também diz que os artistas não podem montar palcos sem autorização prévia, não devem impedir a fluência do trânsito e nem receber patrocínio privado. A regulamentação determina ainda que os espetáculos devem ser gratuitos, permitida apenas a doação espontânea.

Desde a sanção da nova lei, artistas se organizaram em protestos no Recife, marcados sempre após as 22h, entre eles em Olinda e em frente à própria Alepe. No Facebook, a página do recém-criado Movimento Arte na Rua já tem mais de 2,5 mil curtidas, organizando reuniões com artistas para atuarem na revisão da legislação.





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